crianças e cachorros são iguais em qualquer lugar

Filipe Maia
3 min readMay 31, 2022

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quando se viaja, a experiência de viver algum outro local é intrigante. curioso pensar que a sua viagem é o dia a dia de alguém e que aquelas ruas que você transita pela primeira vez de olhar curioso e admirado talvez não tem mais o mesmo brilho para quem chama aquilo de casa. claro, todo mundo se encanta com coisas bonitas, mas acostumamos quando pertencemos.

mas certas coisas não mudam em viagens, por maior que seja nossa expectativa, ou por resenhas que pessoas que já estiveram lá fizeram antes de você embarcar. te dizem que as pessoas são de um jeito, que o cheiro do lugar é de determinado modo e que as coisas funcionam ou não, dependendo de quem fala. você nunca vai saber nada disso, de fato, até estar ali e, voltando ao pensamento inicial, algumas coisas não mudam.

as crianças são crianças, choram, riem, brincam, tem desejos absurdos para comprarem unicórnios cor-de-rosa, olham com olhos de piedade para os pais, se lambuzam com sorvete, chutam bolas imaginando serem craques e, como em todo lugar do mundo, não fazem ideia do que acontece além daquele imaginário infantil da pouca vivência que tem.

skatistas se tornam amigos assim que chegam na pista de skate e a língua universal é a do skate. mesmo com a barreira de linguagem, as manobras falam mais alto e os gritos de incentivo não precisam de tradução, uma vez que os sorrisos e os apertos de mão são os mesmos quando acertam a trick.

o futebol é adorado em camisas, calças e bonés de times, gritado por vozes de diferentes línguas, celebrado em vitórias de campeonatos com passeatas que fecham as ruas e fortemente debatido nos almoços com televisões ligadas em programas esportivos mostrando os gols da noite passada.

as pessoas são pessoas. algumas mais abertas, outras mais frias, algumas mais educadas e outras mais rudes. mas assim é em todo lugar, não é mesmo? esbarram em você, te dizem obrigado, não tem paciência e às vezes até tem paciência demais. tem que dar sorte para encontrar pessoas legais no caminho, mas tem também que ser legal para isso.

os cachorros têm coleiras e roupinhas personalizadas, residindo em apartamentos pequenos, soltando sua energia em parques no meio das cidades, latindo para outros cachorros, obedecendo comandos em qualquer língua, desobedecendo-os também, porque, afinal, são cachorros. tem os cachorros de rua, que inevitavelmente cortam nossos corações querendo adotar todos para serem felizes em outra língua com nosso amor solidário.

fato é que em buenos aires, essas coisas são apaixonantes e apaixonadas e, muitas vezes, todas ao mesmo tempo. uma criança com roupa do river plate se encanta com um cachorrinho que está muito bem cuidado passeando no colo de uma senhora argentina de cara amarrada a caminho do parque. em frações de segundo, tudo isso na esquina esperando para atravessar para ir à pista de skate.

para quem viaja, a experiência é sedutora, intrigante, perigosa, divertida, tudo ao mesmo tempo. mas para quem vive, é o cotidiano, é a rotina, é a vida acontecendo. as crianças vão continuar querendo ter cachorrinhos e os animais vão continuar brincando nos parques quando não estiver chovendo.

Rutina repetitiva que constantemente termina (ahh)
Vuelve a empezar de nuevo, da fruto la semilla
(¿Porque envejeces?), ¿Porque tu piel se va arrugando?
El paso del tiempo una broma te está jugando

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