exercício004

Filipe Maia
3 min readJun 14, 2021

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acordo gritando com a cabeça dentro d’água em uma banheira com o peso de mil mãos sobre a minha cabeça não sabendo se o sonho tinha me trazido até ali ou se aquilo ainda fazia parte do sentimento de não pertencer mais à realidade.

de qualquer forma, estava sozinho imerso em pensamentos que variavam entre portas que abri durante todos esses anos na minha mente de forma compulsiva como se esperasse achar respostas para perguntas que eu nunca consegui fazer.

é um sentimento impotente achar que se pode intercalar os planos de forma arrogante sem sentir corpos esbarrando em seu próprio ambiente. você nunca está sozinho diante dos fatos de quem busca uma paz que nunca foi sua.

a ânsia de ter vivido tempos em que não era preciso mostrar e sim apenas viver é tão grande que o corpo grita de diversas formas, vontades que vão além do plano físico e doem na alma e nas almas que viveram esses momentos, mas sentem angústias que nem sabem quais são. é um certo desespero saber que estamos separados apenas por uma linha temporal, eu e eu, independente de qual eu estamos falando e de onde ele pertença, afinal aquela última viagem sempre chega pra todos nós (eus e eus).

de fato sempre imaginei que a vida seria menos maçante se tivéssemos menos conhecimento porque só de saber já dói. mas ao chegar aqui diante das luzes da ribalta do espetáculo que é olhar pra dentro, só consigo enxergar uma platéia vazia e cheia ao mesmo tempo, como a dualidade que se é viver para fora.

é incrível como é difícil silenciar o ego de quem busca por atenção como uma bala perdida, procurando a tudo e atingindo quem menos deveria atingir, fazendo-o sofrer de formas que ele também não imaginava que sofreria.

permita-me: metáfora nenhuma vai conseguir exemplificar o que sentimos quando aparentamos ser.

e o desespero ao acordar de um pesadelo é o mais próximo que podemos sentir de um medo irreal, longe daquilo que podemos controlar, afinal, somos um conjunto de imprevisibilidades que deram certo e outras nem tanto. se isso é na realidade, imagina sonhando.

fato é que não podemos nos permitir o peso da expectativa alheia sendo que estamos tentando, tanto quanto o outro tenta, abrir portas diversas em nossa pequena, insignificante e praticamente irrelevante existência.

me desculpe, mas o erro da expectativa é somente seu.

é mais fácil apegar-se a sonhos médios e comuns do que arriscar-se a viver daquilo que nunca se imaginou ou que venham fazer sentido somente para quem tem poderio financeiro.

inveja essa que vos relato nos (me) impede de ser genuinamente feliz, uma vez que sei o suficiente para saber que números não retratam a realidade, sejam eles na sua tela ou na sua conta bancária, afinal, se fosse assim, rico não teria depressão.

a média de foco do ser humano é de apenas 8 segundos. seria prepotente acreditar que as pessoas cheguem até essa parte do texto sem se perderem?

monges vivem uma vida para estarem longe disso tudo que estou te relatando e, consequentemente, das dores que essas dores trazem. na ânsia de voar, também tentei, mas durou apenas 10 minutos até a próxima notificação aparecer na tela do meu celular.

porém nessa era de diversos eus, eu prefiro ser o que abre portas multidimensionais em espaços que antes não me eram permitidos. a começar por mim mesmo.

I’ve got my claim to fame
I’ve got that positive flame
And if you think I’m going crazy
Then pretty baby it might be you babe

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