significante

Filipe Maia
2 min readJul 6, 2022

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o mais difícil é ter um começo. as primeiras palavras de um papel em branco, o início, a fagulha, isso é o que mais dá trabalho. às vezes a gente tá com a cabeça cheia, quer desabafar e vem pro papel, mas nem sempre a gente sabe como começar. e por começar eu falo começar bem, de um jeito que prenda nas primeiras palavras, que faça o começo não ser tonto ou fraco ou morno ou desinteressante. o começo é importante, mesmo que o meio e o fim sejam melhores que ele.

não vou tentar aqui fazer uma analogia de começos meios e fins e dizer que o importante é começar de alguma forma, porque não acredito que seja de qualquer forma que se começa a falar. tem que ter carinho, tem que ter cuidado, tem que pensar antes de falar qualquer coisa, porque depois pra consertar é mais difícil do que se tivéssemos sido mais cuidadosos antes. começar é um trabalho.

mas, ultimamente, vejo que os começos, meios e fins são sempre de nós mesmos. textos que tentam romantizar nossas relações problemáticas ou que tentam nos fazer sermos mais poéticos do que realmente somos, que tentam nos dar mais importância do que o grão de areia no universo que realmente é nossa existência. tudo bem, todo mundo é importante de alguma forma, mas será que não sabemos falar de nada mais além de nós mesmos?

fico pensando se não estamos fechados na nossa própria existência, perdidos num ego que não nos deixa olhar pra fora e enxergar que tem pessoas que estão tanto ou mais perdidas que nós, que gostariam que suas histórias fossem ouvidas e contadas, em um infinito de histórias que não fossem propriamente de nós mesmos, uma vez que seja.

tudo bem, você viajou, você riu, você chorou, mas será que olhou pra fora? será que viu o mundo à sua volta além da sua ótica egoísta e, de grande parte, leviana o bastante pra dizer que é relevante?

gosto de ler textos de nós mesmos, de nossas histórias tristes (na maioria das vezes elas são), dos contos que ninguém sabe e que deixamos para o papel, mas muitas vezes são pequenos demais para terem qualquer importância além da nossa, além daquela que damos e que nós permitimos que dêem. a mim só importa a sua tristeza quando você começar a entender que o outro também sofre e que o outro também viajou, riu, chorou e teve uma significância tão grande no mundo quanto a sua e quanto teus textos te fizeram ter.

10 thousand saints who haven’t got a chance
Invisible people in a sacred expanse
What is it with you? What is it with me?
Distant populations you never even see

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